quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Chorava compulsivamente, como criança que reencontra o pai após o abandono. Abraçou-o como quem suplica por uma chance, como quem expressa no olhar a necessidade de proteção e segurança, nunca antes tidos de tal forma. Não foi esse um reencontro entre pai e filha, o qual designaria certamente uma reconciliação. Foi um reencontro entre ex-marido e ex-esposa!
Isso foi vivido em forma de sonho, haja visto que não há por parte dele, qualquer possibilidade de comunicação. Portanto, ela sonha!
O que a faz sonhar com seu ícone de proteção e segurança, sua referência de amor, cuidado. Sim, pois não houve outro que a amasse de tal maneira, que a resguardasse, a livrasse assim como seu pai, das variadas formas de corrupção mundana. Embora tenha tentado, não foi suficiente por toda vida. Passados alguns anos, todo esse aparato desmoronou-se frente ao desejo dela, que valentemente saiu pela porta da frente e foi viver sua vida.
Passados dois anos e alguns meses, nota-se que o lugar de aconhego, conforto e proteção, não existe mais. Restaram somente pequenos blefes, geralmente relacionados a esses mimos que ela deixou para trás, para hoje viver de forma tão simples, mas sobretudo, verdadeira.
Os sonhos não davam o ar de sua graça há tempos, mas isso não implica dizer que nunca mais virão. Enquanto houver necessidade de buscar apoio, proteção e cuidado, ele aparecerá em suas horas de sono ....
Hoje o que tem em mente é que sozinha pode também estar segura, protegida, cuidada e amada. Não há que se esperar pelo último romance para tornar esses preceitos palpáveis novamente. Menos ainda busca-los na casa do Pai, não desse pai terreno, pelo menos.
Por mais que prefira receber, há momentos na vida em que a necessidade de autonomia fala mais alto, daí o despertar pra uma nova realidade.
E que eu amadureça a ponto de não compartilhar nem em sonhos, a carência pelo que deixei pra trás.